Pesquisa do SPC apontou que 16,8 milhões de nordestinos estão com o nome sujo

O número de brasileiros que não conseguem pagar suas contas continua subindo e chegou a 59,9 milhões de pessoas em novembro. No mês, o aumento na quantidade de inadimplentes foi de 0,23% na comparação com o mesmo período do ano passado. Na comparação mensal (de outubro para novembro), o indicador apresentou aumento de 0,15%. Os dados foram revelados ontem pelo indicador do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

A quantidade de pessoas com alguma conta em atraso e com o CPF restrito para contratar crédito ou fazer compras parceladas chega a 39,5% da população com idade entre 18 e 95 anos. Mas é na faixa entre os 30 e 39 anos que se observa a maior frequência de negativados.

                      “A cifra ainda é bastante elevada. Para as empresas, o cenário implica a perda de potenciais consumidores; para os consumidores, implica restrição do acesso ao crédito”, analisa o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro.

Para ele, a mudança desse quadro está ligada à melhora das condições econômicas e, em especial, pela redução da taxa de desemprego. “Nos últimos meses, a economia brasileira iniciou um processo de recuperação. A atividade avançou por três trimestres consecutivos e a inflação e os juros recuaram. Algumas mudanças de regras também favoreceram o consumidor, a exemplo das novas regras do rotativo do cartão de crédito. Mas a recuperação ainda é incipiente e não atinge o bolso do consumidor”, afirma.

Regiões devedoras
É na região Sudeste em que se concentra a maior quantidade de consumidores com contas em atraso: 24,24 milhões (37%). A segunda região com maior número absoluto de devedores é o Nordeste, com 16,85 milhões de negativados (42%).

Na região, as dívidas ligadas ao comércio foram as únicas a apresentar queda anual, com retração de 9,14%. O número de pendências devidas aos segmentos de água e luz cresceu 2,16%, enquanto os registros com o setor de comunicação e com os bancos cresceram 11,96% e 3,76%.

Como escapar das dívidas
Ainda dá tempo de ser excluído da estatística dos 60 milhões de brasileiros com nome sujo e começar 2018 com as contas no azul. Segundo o consultor financeiro Jonatha Souza, na maioria dos casos, boa parte dessas pessoas não tem o seu nome sujo apenas com um credor, mas com cartões de crédito, lojas, bancos e concessionárias.

O educador apontou ainda como um dos principais problemas o fato de que o Brasil é um país pobre, com renda per capita baixa, porém com níveis de consumo comparados aos de países europeus e aos EUA.

                             “O melhor investimento para a classe média e baixa é não dever, porque não existe nada que renda tanto quanto os juros”, considerou Jonatha Souza.

Jonatha aponta como primeiro passo para quitar as dívidas em atraso saber a quem e o que se está devendo. “É muito comum a pessoa querer quitar as dívidas, mas nem saber que dívidas são essas” defendeu ele. A consulta é rápida, simples e pode ser feita pela internet por meio do site do Serasa ou do Consumidor Positivo. O segundo passo é não tentar quitar tudo ao mesmo tempo. Estabelecer prioridades de acordo com o valor dos juros e ir quitando os mais caros primeiro é o mais indicado em situações de múltiplas dívidas.

Além disso, é preciso equilibrar as despesas com o pagamento das dívidas e saber administrar bem a quantia em mãos. Ele explica que os custos fixos mensais não podem ultrapassar 40% do salário líquido e o ideal é que os 10% ou 15%, que normalmente seriam destinados a investimentos, sejam destinados ao pagamento da dívida.

Outra dica preciosa que ele deixa é: “Só faça acordos e contratos quando você tiver certeza que pode levar até o fim, porque, se não for cumprido rigorosamente, a quantia investida até então pode ser completamente perdida e a dívida pode dobrar”.

Quando a dívida é muito grande, o especialista acredita que se desfazer de um bem para quitar o débito é uma boa escolha.

E principal dica nesta época do ano é a de usar parte do décimo terceiro como entrada da dívida. Quem ainda possui um pouquinho do FGTS inativo que foi liberado pelo governo ou está esperando o depósito do último lote de restituições do Imposto de Renda também pode investir a quantia sem medo.

Inadimplência por idade
Em novembro, praticamente metade da população entre 30 e 39 anos (49%) tinha o nome inscrito em alguma lista de devedores, somando um total de 16,93 milhões de pessoas.

É o caso de um publicitário de 36 anos que contou à reportagem que está devendo ao banco, mas com vergonha de ter seu nome estampado no jornal, preferiu não se identificar. Ele revelou que tem duas dívidas, uma em seu nome e outra como pessoa jurídica. A primeira teve início depois que ele utilizou R$ 200 do cheque especial e não conseguiu pagar o valor. “No dia que eles fizerem uma proposta condizente com a dívida que eu tinha [inicialmente], eu pago. Enquanto quiserem que eu pague juros e multas exorbitantes, vou continuar sem condições de pagar”, desabafa.

A segunda dívida é do restaurante que o publicitário possui no município de Simões Filho. De acordo com ele, nesse caso a “bola de neve” não começou por sua culpa, mas de um fornecedor do estabelecimento. “Eu comprava com cheque pré-datado em um local, esse local passou o cheque pra um terceiro que depositou tudo em um dia, e não tive como pagar”.

Segundo dados da pesquisa, também merece destaque o fato de um percentual significativo da população com idade entre 40 e 49 anos (47%) estar negativado, da mesma forma que acontece com os consumidores com idade entre 25 a 29 (46% em situação de inadimplência). Entre os mais jovens, com idade de 18 a 24 anos, a proporção cai para 21% – em número absoluto, 4,92 milhões. Na população idosa, considerando-se a faixa etária entre 65 a 84 anos, a proporção é de 31%, o que representa 4,92 milhões de pessoas.

Veja dicas para não se endividar ainda mais

Consulta – O ideal para quem deseja limpar o nome é consultar quanto deve e a quem deve. O procedimento é fácil e pode ser feito pela internet.

Prioridades – Não tente quitar tudo ao mesmo tempo. Eleja prioridades com base nos juros que crescem mais rapidamente e comece a quitar uma a uma.

Novas contas – Equilibre as despesas mensais com o pagamento das dívidas. Se livrar de despesas supérfluas pode ajudar a cumprir os contratos e acordos.

Foco – Só faça negociações quando for capaz de manter até o final. A quebra do contrato pode resultar na perda do valor que já foi pago e no crescimento desordenado da dívida.

Opção – A depender do tamanho da dívida, se desfazer de um bem pode ser uma opção para limpar o nome e se livrar de uma vez por todas da preocupação.

Dinheiro extra – O 13º salário pode ajudar a quitar as dívidas neste mês de dezembro. Quem está no último lote de restituições do Imposto de Renda que sai dia 15 também pode usar esse dinheirinho.

Dezembro tentador – Não se deixe levar tão fácil pelas vitrines e cartazes vibrantes de liquidação, as lembranças mais baratas e pagas à vista podem fazer toda a diferença neste Natal.

Compras – Fazer uma lista é sempre bom para ajudar a comprar somente o necessário e evita o consumo
desordenado e impulsivo.

Natal planejado – Comprar antecipadamente amplia as opções e dá mais tempo para a pesquisa de preços. Os especialistas garantem que quem compra às vésperas acaba pagando mais caro.

Antes só – Se possível vá às compras sozinho. Desta forma você não corre o risco de comprar algo influenciado por uma companhia “gastadeira”.

*Kelven Figueiredo e Pedro Vilas Boas são integrantes da 12ª turma do CORREIO de Futuro, orientados pela editora Lucy Barreto
Fonte: Correio da Bahia