O ilustre professor e poeta Camillo de Jesus Lima (1912-1975) é um dos mais notáveis de sua geração. Além do magistério, exerceu intensa atividade crítica, jornalística e política, essa última lhe rendeu uns tempos de prisão durante o governo Geisel. Os amigos contam que desde os primeiros anos da juventude, Camillo era animado pelas ideias socialistas, alguns dizem que por influência do pai, o professor Chico Fagundes, um homem erudito (lia Shakespeare no original, segundo Camillo) e pouco dado à fé.

Por conta do seu ânimo político, Camillo foi preso em maio de 1964 em Macarani, onde exercia o cargo de tabelião, e por esta época também foram detidos, segundo conta Emiliano José, aproximadamente uns vinte outros homens, dentre eles estava o prefeito de Vitória da Conquista, José Fernandes Pedral Sampaio; o vereador Péricles Gusmão Régis; o bancário Reginaldo Santos, editor do jornal “O Combate”; o advogado Raul Carlos Andrade Ferraz, que viria a se tornar prefeito de Conquista e depois deputado federal; o secretário municipal de educação do governo Pedral, Everardo Públio de Castro; mais uma série de outros comerciantes, comerciários, radio-técnicos, bancários e estudantes.

Desses, alguns foram liberados de imediato, outros como Camillo continuaram presos e, posteriormente, foram deportados para o Quartel de Amaralina, em Salvador. Sobre o nome de Camillo pesavam indecisas acusações: uma delas era de ser membro PCB, outra de integrar a Frente de Libertação Nacional e ainda de ser do Grupo dos Onze de Brizola. Na prisão, onde ficaram incomunicáveis, Othon Jambeiro fez colocar a insígnia de Dante: “LASCIATE OGNI SPERANZA VOI CHE ENTRATI”.

Tempos depois, os presos seriam vistos pelo próprio general Geisel que, ao se deparar com a inscrição, comentou que havia intelectuais ali. Ao ouvi-lo, Camillo, o “lutador primevo”, teria dito: “General, intelectuais somos todos os que aqui estamos. E intelectuais lutando por uma causa justa”. Lutar é um dos verbos mais presentes na lírica de Camillo. Era a sua forma de enfrentamento do mundo.

Sei que o prendo e me mata, sei que luto. Embora

Morra, jamais terei o labéu de covarde.

(Luta Íntima, Poemas, 1942).