Apesar de derrotado nas eleições presidenciais deste domingo (28), Fernando Haddad tem o aval do ex-presidente Lula para decidir que tarefa vai assumir à frente do PT durante o governo de Jair Bolsonaro (PSL).
Em conversas com aliados que o visitaram em Curitiba na semana passada, Lula recomendou que Haddad seja consultado sobre suas expectativas e como pretende desempenhar o papel de líder da oposição daqui para frente.
Embora a campanha petista tenha sido errática em diversos momentos e demorado para detectar e reagir à onda pró-Bolsonaro, a avaliação no partido é que Haddad foi alçado à condição de liderança nacional.
Isso porque, com um discurso que tentou extrapolar o PT e vencer o sentimento antipetista, o ex-prefeito de São Paulo carregou a militância e atores de fora do espectro do partido em torno de um discurso único, pela defesa da democracia.
Os dirigentes da sigla sabem que será preciso enfrentar o antipetismo -principal ingrediente de uma eleição tão polarizada- e que, portanto, a figura de Haddad será relevante para as costuras e diálogo para além do PT.
Uma reunião da executiva ampliada petista já foi marcada para terça-feira (30), em São Paulo, para discutir o futuro partidário.
Nesta segunda (29), Emidio de Souza, que coordenou a campanha de Haddad, deve ir a Curitiba ouvir as recomendações de Lula.
Auxiliares de Haddad afirmam que sua disposição inicial é insistir na formação de uma frente democrática que se contraponha a Bolsonaro, sem necessariamente ocupar um cargo formal no comando do PT.
Durante o segundo turno, Haddad viu frustrada sua tentativa de compor o arco também com atores políticos de oposição ao PT, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Apesar de não conseguir o apoio explícito de Ciro Gomes (PDT), na reta final o petista recebeu declaração de voto de Marina Silva (Rede) e do ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa.
Relator do mensalão, o magistrado foi algoz de José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha.A avaliação dos petistas é que os 47 milhões de votos que Haddad teve no segundo turno o credenciaram para liderar a oposição e também ampliar a campanha pela libertação de Lula, até mesmo fora do país.
“Vamos entrar firme no ‘Lula livre’, por um julgamento justo”, afirmou Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, ressaltando que o país termina a eleição dividido e, na sua opinião, mais politizado.
O primeiro turno, dizem os petistas, foi uma demonstração da força e popularidade de Lula -que levou seu afilhado político até o fim da corrida pelo Planalto- mas é consenso que o PT não pode mais depender exclusivamente do ex-presidente.
A tese é que é preciso dar espaço a lideranças novas, inclusive fora da burocracia partidária, como é o caso de Haddad.
Aos 73 anos, o próprio ex-presidente reconhece que, mesmo na remota hipótese de sair da prisão num governo Bolsonaro, não terá condições de comandar a oposição por muito tempo -reflexo do sentimento antipetista que tomou o país.