Postado por Verônica Ferraz em 10 de jun de 2021
Nos últimos 20 anos, o Brasil extinguiu mais de 100 mil escolas no campo, e a Bahia foi o segundo estado do Nordeste que mais fechou. Como forma de auxiliar nessa realidade, a Uesb, por meio do Programa Formacampo, promoverá um curso de formação para professores de sete territórios de identidade da Bahia, abrangendo Médio Sudoeste, Sudoeste Baiano, Velho Chico, Vale do Jequiriçá, Sertão Produtivo, Litoral Sul e Médio Rio de Contas.
A iniciativa firma parceria com um total de 113 municípios baianos e se propõe auxiliar na formação de professores mais sensíveis e especializados para atuarem com a educação de crianças e adolescentes da zona rural. Coordenado pela professora Arlete Santos, do Programa de Pós-Graduação em Educação da Uesb, o Programa é fruto da atuação do Grupo de Estudos e Pesquisas em Movimentos Sociais, Diversidade e Educação do Campo e da Cidade (Gepemdecc).
Por falta de políticas públicas de incentivo e manutenção, diversas escolas foram fechadas em comunidades rurais. Com isso, estudantes da zona rural tiveram a necessidade de sair do seu núcleo para frequentar escolas da cidade. De acordo com a coordenadora, essas medidas geraram prejuízos no processo de ensino-aprendizado de crianças e adolescentes da zona rural.
Além de dificultar a adaptação dos estudantes ao novo modelo escolar, a migração implicou em dificuldades relacionadas ao meio de transporte adequado para o deslocamento, ao tempo despendido e no cerceamento ao direito da sua identidade cultural e reconhecimento dos seus costumes. “A Educação Básica centralizada na educação urbana desconsidera o direito dos povos do campo e da própria Constituição.
O ensino deve levar em consideração a cultura local, identidade do sujeito e o modo de produção e trabalho a quem a educação se destina”, considera Santos.
Realidade da educação no campo – O município de Bom Jesus da Lapa é um dos 113 que aderiu ao Programa. Por lá, existem 30 escolas no campo, com alunos ribeirinhos, quilombolas, assentados e acampados. Segundo Cristina Macedo, secretária de Educação de município, atuar como professor na escola do campo é um imenso desafio, sobretudo no município, onde os professores precisam atravessar o rio São Francisco ou percorrer longas distâncias para atender os diversos contextos de ensino. “O Formacampo veio para contribuir, significativamente, com a construção dos Projetos Político Pedagógicos (PPP) das escolas, de forma contextualizada, com as especificidades de cada lugar”, declara.
Lançado em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), o curso do Programa será ofertado em formato remoto, com transmissão pela TV Undime. Ao longo desse semestre, a formação irá capacitar e instruir centenas de professores sobre as necessidades de debater políticas públicas educacionais voltadas para modalidade de educação no campo, estabelecer diálogo com diretores das escolas e incentivar a valorização cultural e as particularidades desses alunos.
A medida visa diminuir o sucateamento da educação, bem como estabelecer debates para o melhoramento do desempenho das unidades escolares do campo. Para mudar a realidade educacional do país é preciso muito engajamento e comprometimento com a causa. “A partir do momento em que a educação começa a ser pensada e planejada pelas pessoas que vivenciam, cotidianamente, o contexto do campo, a qualidade no processo educacional é perceptível. Pensar a educação por meio das vivências desses sujeitos tem muito mais significados”, ressalta Macedo.
Formação de professores do campo – O Formacampo é um curso de formação on-line voltado para educadores, gestores e coordendores de Escolas no Campo ou que tenham, no mínimo, 50% de alunos oriundos da zona rural. A iniciativa busca realizar atividades de extensão, por meio da formação continuada dos profissionais que atuam na educação do campo, dando subsídios para a reformulação dos Projetos Políticos Pedagógicos voltados para a educação do campo nos municípios atendidos.